segunda-feira, 19 de abril de 2010

Winter



Faixas negras desenrolam-se pelo solo, como se saísse por debaixo da terra ou apenas surgisse de algum lugar fora daquele tempo.Um sopro frio, tão morto quanto animais enterrados na pútrida morada eterna dos sete palmos. Em caracóis desenhados por tal vento as faixas tomavam formas, enrolando-se em torno de si mesmas, tomando corpo e consistência. A morada negra, tal como a estátua se construía magicamente numa dança fúnebre de sopros ascendentes.Um capuz de conteúdo etéreo se formava, o anjo da morte sobre o túmulo de dezenas de vidas.Cada qual perdida ao seu toque. Por dentro da estátua formada algo tomava forma, mãos roxas, sujas de terra, saíam pelas mangas alongadas. Abaixo do capuz os cabelos branqueados de um futuro sem vida se desembaraçavam para fora, e por fim o rosto, a face da morte como era. Uma caveira, o crânio da efemeridade humana, o toque especial que gostava em particular. A mão direcionou-se aos orbes sem preenchimento do crânio, os dedos o puxaram, a máscara caía, a face era revelada. Olhos vermelhos que sorriam maliciosamente, sorriso que fitava o longe. Deixou o crânio cair,não necessitava daquilo, podia ter muitos. Começou a caminhar para fora do lugar fechado, sentia cheiro dos humanos, sentia os corações esperando o inverno final. Ouvia clamores pelo descanso. Os panos desenrolaram-se caminho afora guiados apenas pelas vidas que podia tomar.

Imagem, gentilmente afanada de Fernando Martin em epilogue.net

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