domingo, 22 de agosto de 2010

Silêncio falante...

Junto a uma maleta marrom, alguém permanecia sentado num banco da praça, debaixo da sombra aconchegante da arvore. Os olhos fixados em algum ponto que talvez nem mesmo existisse a não ser em seus próprios pensamentos. Curioso, um jovem se aproximou um pouco tímido iniciou:
- Com licença,posso me sentar?
O homem virou-se a ele com um sorriso e aquiesceu. O jovem sentou-se e esperou, o silêncio que reinou o deixou incomodado. O homem apesar de sorrir nada dizia, apenas olhava para aquele mesmo ponto de antes.
- Errr....senhor....
O jovem tentou interferir com suas palavras inseguras.
- O que tem a me dizer, meu jovem!? – O homem era cordial com a voz.
- Porque acha que quero dizer algo?
- Porque você iniciou a conversa e o silêncio te incomodou mais do que a mim.
- O silêncio o incomoda também?
- Somente quando fico comigo mesmo.
- Ah....
Novamente o silêncio brotou das poucas palavras e da cordialidade dos dois. Mas a falta do que falar também incomodava ao jovem.
- O dia está bonito, não é?
- Realmente, ficaria melhor se você conseguisse falar o que quer...
- Mas....mas...
- Te contarei uma história...
O menino calou-se e dessa vez sabia que viriam mais palavras, então apenas esperou que viessem ouvindo atentamente. O homem começou a sua história.
- Eu já viajei muito por esse mundo. Já andei com as estrelas a noite e voei com os pássaros durante o dia. Em uma destas viagens, quando passava por uma pequena cidade de aparência abandonada encontrei um pequeno moço, talvez da mesma idade que você. Era tão iniciante no mundo quanto as serelepes libélulas, só que muito diferente desses pequenos insetos ele não era nada serelepe. Na verdade, ele se sentava em um banco e esperava. Não sei ao certo o que ele esperava, mas ele esperava sempre. Nesse tal dia me sentei com ele, era um pequeno banco de madeira e estávamos sob a abobada de estrelas, um vento caloroso soprava sobre nós. Conversei com ele durante algum tempo, ele gostava muito de falar e ouvir, mas apenas sobre coisas. Me lembro bem de nossa conversa.......
“ – Então mora aqui há muito tempo?
- Não, eu não moro aqui. Eu espero por aqui, ainda não encontrei onde vou morar.
- Não entendo, onde você dorme?
- Durmo ali, naquela casa. – O jovem apontou para uma pequena casa de madeira com aspecto decadente.
- Então você mora aqui!
- De maneira alguma!
- As pessoas costumam considerar o lugar onde dormem como o lugar onde moram.
- Eu só não moro aqui!
- Certo....se diz é porque sabe do que fala não é?
- Imagino que sim.Sabe, aquela casa range muito, principalmente quando venta.
- Casas velhas rangem mesmo.
O jovem deu um sonoro riso.
- Porque riu?
- Não acho que casas velhas deviam ranger, deviam ficar mais aconchegantes. Onde eu morar vai ser assim. Quanto mais velha for a minha casa, mais jovem será. Porque ela será sábia.
- Uma casa é capaz de ser sábia?
- Claro que é!
- Ah....vai entender! Eu acho que tenho que partir.
- Pensei que fosse. O vento mudou, não é?!
- Meus pés querem andar!
- Entendo...Boa viagem!
- Obrigado.- o homem de maleta silenciou-se por algum tempo, como se pensando em algo - Não sei o que te desejar!
- Tudo bem, eu já lhe desejei!”
.......então depois disso eu comecei a caminhar e durante o meu caminho até aqui eu não tinha ficado em silêncio, sabe, vim conversando com pássaros, estrelas e pessoas. Apenas não tinha ficado em silêncio ainda e agora que parei, que fiz como ele e esperei eu descobri o que ele queria dizer.
- O que ele estava dizendo?!
O homem abriu um sorriso e levantou-se.
- Sabe, tem coisas que só se encontra sozinho e no silêncio ainda que incomode.
Recolheu sua maleta de couro marrom e saiu sem dizer adeus. O jovem permaneceu sentado, sem entender nada.
Então de longe, a voz como um eco da consciência, o homem revelou:
-Carreguei um pedacinho dele comigo e um pouco de mim permaneceu lá.

3 comentários:

nell disse...

Poxa .. que lindo isso !
Fez até nascer um negócio leve e fofinho dentro de mim, acho que é puro encantamento .
Genial *-*

Jose Ramon Santana Vazquez disse...

...traigo
sangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...


desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ


TE SIGO TU BLOG




CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...


AFECTUOSAMENTE
JEFF

ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.

José
Ramón...

Gabby Paiva disse...

Ultrapassar o silêncio que sufoca e transmitir ao outro o que temos de melhor para que nele tenha um pouco da gente, para que mude e melhore. Espalha uma parte nossa em cada um que passou na nossa vida. E que nos guarde bem.