sábado, 6 de fevereiro de 2010

Pandora



As engrenagens estavam secas, a lubrificação da maioria delas tinha se acabado havia anos, mesmo assim deviam girar.Os barulhos metálicos se expandiam pelo lugar, o girar seco das rodas os faziam aos montes emitindo sons que eram respondidos por barulhos iguais. Pequenos e quase invisíveis fios se desenrolavam por ali, tal como uma teia de aranha mais elaborada, encontrando-se em alguns pontos, ligando-se as engrenagens em outros, ganhando pequenos volumes disformes durante seu desenrolar lento por entre as peças de metal. Era tudo compassado e auto-suficiente, por isso a menina ficava a se balançar por horas, e dias e anos a fio sem se importar com nada. Em meio aquele tanto de fios, ela simplesmente tentava se divertir, mas o lento balançar do pêndulo nem ao menos divertia mais, era apenas algo para se passar àqueles pontos incontáveis de nada.

Antes os olhos brancos acompanhavam o desenrolar de grandes novelos, no âmago de tudo aquilo, mas se cansou dessa brincadeira e procurou achar diversão em outra atividade: amarrar coisas nos fios, como se fossem grandes varais, também era bom, mas de que valia, se a engrenagem só ficava agarrada por instantes? Logo se cansou disso também. Então achou seu lugar favorito, o balanço gélido de metal, fora divertido por algum tempo, mas agora era apenas mais um lugar. Um rangido pra lá, outro rangido pra cá, lento tal como brisas de janeiro. Os cabelos negros envolvidos na face nem se moviam, a cabeça baixa apenas esperava os momentos gloriosos de se ter paciência. Mais rangidos, menos desejos.

A menina estava inerte em seu assento nada glorioso, vestidos largados sobre o seu balanço eterno. Os fios caminhavam por entres as peças, travando suas próprias lutas contra o lugar, seguindo um caminho determinado por entre toda aquela vastidão de engrenagens secas.

Um sopro frio perpassou as vestes da menina, balançou-as de um modo único, e que ela aprendera a reconhecer. O corpo sem movimentos tomou uma alegria infindável, os olhos brilharam por debaixo dos fios negros enovelados em sua face. Um sorriso branco e maldoso apareceu. Como uma pessoa que reaprende a andar ela levantou-se, as mãos para baixo, os cabelos sobre a face como uma cortina negra para não deixar entrar luz. As pernas dobradas, um joelho virado para o outro. Soltou um suspiro gelado, colocando pra fora a fria vida que levava. Virou-se repentinamente para o lado, então o pêndulo se moveu em meio às engrenagens tempestuosas em seus barulhos repetitivos. Ela nem mesmo saiu da posição para encontrar outra mais confortável, apenas manteve-se ansiosa pelo o que vinha a frente. O pêndulo parou, o fio engrossado se fez ver emperrando uma das engrenagens. Debruçou-se sobre o fio do balanço, e moveu a mão numa pequena música particular e com um movimento, com apenas um dos dedos erguidos ordenou algo. O balanço moveu-se para o lado e voltou para o lado em que o fio estava. Uma grande quantidade de líquido vermelho esguichou para cima molhando o corpo dela e tingindo o objeto metálico. Um risada ecoou em meio as engrenagens e findou-se tão rápido quanto a alegria da mocinha, que voltou a sua posição entediada, apenas esperando o tempo certo para se banhar na morte de outros. Pandora vira o início daquilo tudo, e agora partilhava o final de cada um deles, entediada por vezes até que o sopro da morte lhe viesse avisar de sua próxima tarefa.

Imagem retirada de epilogue.net,galeria Alissa Rindels

Um comentário:

Thalita Guerini disse...

simplesmente MARAVILHOOOOOOSOOOOOOOOOOOO
@_@ Jeffinho tá muito lindo
parabéns querido!!!
amei amei amei!!!
fiquei até arrepiada
aushsuahah

amodoro-o